Juros altos são a causado retrocesso na indústria

O Brasil está passando por um processo de desindustrialização precoce em função da atual política de juros, segundo o vice-presidente da República, José Alencar. Ele fez a afirmação hoje, durante seminário sobre o tema, promovido pela Fiesp. “As taxas elevadas e despropositadas têm elevado o câmbio, que, aliás, é um câmbio ‘burro’”, disse Alencar.
A política de juros altos brasileira é a grande razão para o processo de desindustrialização precoce pelo qual passa o País. A opinião é do vice-presidente da República, José Alencar, e foi expressa durante o seminário "Industrialização, Desindustrialização e Desenvolvimento", nesta segunda-feira, 28, na Fiesp. “As taxas de juros elevadas e despropositadas têm valorizado o câmbio, que, aliás, é um câmbio ‘burro’, afirmou, lembrando que a Selic está dez vezes superior à média internacional.
Juros elevados, câmbio sobrevalorizado, alta carga tributária e infra-estrutura precária e com poucos investimentos foram apontados pelos presentes no evento como as principais causas para a redução do número de pessoas empregadas na indústria, levando, conseqüentemente, ao encolhimento da participação do setor industrial no Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
Tal queda tem preocupado economistas do mundo inteiro, pois, tanto no Brasil quanto em outros países da América Latina, a “desindustrialização” ocorre precocemente. De acordo com a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), é factível a perda da participação relativa do emprego na indústria em prol do setor de serviços, desde que a renda per capita esteja na faixa de US$ 9 mil a US$ 10 mil. No entanto, se esta diminuição ocorre antes que a renda média atinja aquele valor, o processo é considerado imaturo.
Diagnóstico. Para tirar o Brasil do caminho da desindustrialização, o deputado federal Delfim Neto (presidente do Conselho Superior de Economia – Coscex – da Fiesp) defendeu uma mudança na política monetária, que vem mantendo os juros altos para conter a escalada dos preços. “É falsa a idéia de que crescimento gera inflação”, disse. No terceiro trimestre de 1996, exemplificou, o Brasil cresceu 6,5% e mesmo assim a inflação ficou, em média, em 2%.
O vice-presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), João Sayad, utilizou os juros altos adotados no País como explicação para a desindustrialização brasileira. “A política macroeconômica brasileira não privilegia o emprego e não tem escrúpulos em fixar a taxa de câmbio a valores altamente insatisfatórios”.
Crítico feroz da insistência em se manter a Selic elevada, Paulo Skaf, presidente da Fiesp, lembrou que há um ano a entidade vem alertando sobre a necessidade de se reduzir a taxa de juros. "Agora, ao final de 2005, veremos quem tinha razão: vamos crescer menos que 3%", afirmou. Para as outras questões, a receita de Skaf é simples, mas pode afetar todo o sistema. Segundo ele, a partir da redução dos gastos públicos, há menos necessidade de arrecadação tributária e, com isso, existe menos informalidade.
Também defensor da queda dos juros, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), mudou o foco das reclamações e enviou um recado para o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento), Guido Mantega, sentado na platéia: “Falta ousadia do nosso banco de desenvolvimento para criar um fundo de incentivo muito maior às nossas empresas. Da mesma forma, o ministério da Fazenda precisa liberar fundos setoriais”.
Embora avalie que o Brasil já sofre desindustrialização, Gomes de Almeida acredita que as indústrias brasileiras preservaram condições muito relevantes para reagir e voltar a crescer. “Manteve-se uma diversidade da produção”, disse.
Desindustrialização. Estudos da Fiesp mostram que, até o início dos anos 80, a indústria brasileira ocupava papel importante no PIB. O quadro inverteu-se a partir daquela década, e, entre 1980 e 2003, o crescimento acumulado da indústria atingiu 40%, a taxa da agropecuária ficou em 44,8% e o setor de serviços cresceu nada menos que 71,3%. No mesmo período, apesar desta enorme alta, o mercado de serviços teve grande queda de produtividade e acabou por puxar para baixo a produtividade da economia como um todo, que caiu 4%.
A forte participação dos serviços no PIB também influenciou negativamente a renda per capita. Nos últimos 25 anos, a renda média de cada brasileiro estacionou na faixa de US$ 7 mil (em paridade de poder de compra), já que a área industrial, a maior alavanca do crescimento econômico, diminuiu sua fatia no PIB.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial