A falência do sistema político tradicional

A falência do sistema político tradicional Comentário da cientista política Lucia Hippolito na CBN:
"No meio desta crise envolvendo a decisão do presidente da Bolívia de estatizar as companhias estrangeiras que exploram petróleo e gás no país, salta aos olhos a marcha de boa parte da América do Sul em direção ao retrocesso.
Práticas políticas que pensávamos já terem sido superadas ressurgem com grande força. Usos e costumes considerados mortos e enterrados, renascem em pleno vigor.
Governos populistas, de retórica nacionalista. Práticas clientelistas e assistencialistas. Exploração da miséria e da boa-fé de largas parcelas da população.
Tudo isto parecia superado, a partir da volta da democracia na maioria dos países do continente.
Mas estamos assistindo ao renascimento de governos baseados em líderes carismáticos, que têm relação direta com as massas, que passam por cima de instituições, constituições, contratos, partidos políticos, e tudo aquilo que faz parte do cardápio dos modernos regimes democráticos.
Mas, é bom que reconheça: a volta da democracia fez muito pouco em favor das populações mais necessitadas.
No caso do Brasil, tivemos 21 anos de ditadura e agora estamos completando 21 anos de volta à democracia. E a gente fica se perguntando: o que foi mesmo que a redemocratização fez pelos pobres deste país nesses 21 anos? Quase nada.
O número de milionários aumentou, e a desigualdade também. A concentração de renda continua perversa
Como se não bastasse, a democracia brasileira não conseguiu universalizar o acesso aos bens da civilização: acesso a educação abundante, de boa qualidade e barata; emprego, habitação decente, água tratada, esgoto, transporte de massa abundante e barato, serviços de saúde minimamente decentes.
É de fazer a gente pensar. Os milhões de despossuídos da América do Sul parecem estar decretando a falência do sistema político tradicional, baseado em partidos que faziam as reivindicações da população chegarem ao poder público.
Hoje, o que vemos são parcelas da sociedade que se comunicam diretamente com seus líderes carismáticos, sem necessidade dos políticos.
É o que explica em parte a permanência dos altos índices de popularidade do presidente Lula entre os mais pobres, enquanto o PT e os outros partidos do mensalão afundaram-se na desmoralização.
É o que explica em parte o grande apoio popular de que desfrutam os presidentes da Venezuela e da Bolívia.
Seria interessante saber o que os partidos políticos dos países sul-americanos têm a dizer a esse respeito.
As eleições vêm aí. E não só no Brasil."
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