Crédito educativo deve ser ainda mais escasso em 2009
Beth Koike, de São Paulo
05/12/2008
Fonte: Valoronline
Modalidade de financiamento escassa no Brasil, mas que vinha gerando interesse de bancos privados nos últimos dois anos, o crédito universitário tende a minguar mais ainda em 2009. "A tendência é que o crédito diminua porque os bancos vão ser mais exigentes para liberar financiamento, principalmente, no primeiro semestre, que ainda será um período de instabilidade", diz Fernando Braga, sócio da ValorMax, consultoria especializada em fusões e aquisições.
"Dar crédito a estudante não é a prioridade dos bancos. Com a crise, eles vão focar em outras operações", afirma Adelmo Inamura, sócio da Ideal Invest, empresa especializada em financiamento para o setor de educação. "Vamos ser beneficiados porque nosso foco é esse tipo de crédito", complementa Oliver Mizne, sócio da Ideal, que tem como investidores os fundos de investimento Gávea e Pragma, entre outros.
A Veris Educacional, dona das faculdades IBTA e Ibmec (com exceção da unidade paulistana), já refez suas projeções para essa modalidade de financiamento. Antes de 15 de setembro, quando foi deflagrada a crise no mercado financeiro americano com a quebra do banco Lehman Brothers, a Veris previa que dentro de cinco anos 20% de seus alunos teriam acesso ao crédito educativo.
Agora, essa previsão caiu para entre 12% e 15%. "Hoje, na faculdade IBTA, 4% dos alunos se beneficiam do crédito universitário, o que representa 400 estudantes. Desse volume, pouco mais de 300 universitários têm o recurso por meio da Ideal Invest, 50 possuem financiamento da CEF e o restante do banco Santander", diz Américo Matiello, diretor de operações da Veris.
A maior parte do crédito estudantil é proveniente do FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior), o programa de crédito educativo da Caixa Econômica Federal (CEF). Nesse segundo semestre, a Caixa emprestou R$ 179,4 milhões para 61 mil alunos. No mesmo período de 2007, foram 48 mil estudantes. Desde sua criação, em 1999, a CEF já concedeu R$ 5,3 bilhões.
Outra fonte de recursos para o crédito educativo tem partido da Ideal Invest. Criada em 2001 como uma empresa voltada para emprestar dinheiro para as faculdades se capitalizarem, a Ideal começou a oferecer crédito também para os alunos em setembro de 2006. Os executivos da Ideal não revelam quanto exatamente já emprestaram para os universitários. Contam que cerca de 27 mil alunos têm crédito aprovado, mas nem todos lançam mão dele. Nos dois últimos anos, a empresa repassou aos alunos e faculdades R$ 236 milhões, mas a maior parte foi para as instituições de ensino. "Com a atual situação, o crédito educativo deverá ter uma participação maior nos próximos anos", diz Inamura.
Não é apenas a Ideal Invest que guarda a sete chaves seus números. Os bancos privados falam ainda menos. O Santander não informa quantos estudantes já foram beneficiados, nem tampouco o volume de crédito concedido. "No Brasil, começamos a atuar com crédito educativo para graduação nesse segundo semestre. Ainda é um projeto-piloto e por isso não temos uma verba definida", diz Mônica Ferreira, superintendente do Santander Universidades, que tem convênios com sete faculdades.
O Unibanco também é novato nessa área. Mas em um ano já fechou parceria com 20 instituições de ensino como a carioca Estácio de Sá, a mineira Kroton e a catarinense Unisul. "Esse é um projeto de longo prazo, de cerca de cinco anos, período em que os alunos terminam seus cursos", diz Marcos Magalhães, diretor de produtos de varejo do Unibanco.
Além do Santander e Unibanco, o Banco do Brasil também possui uma operação financeira que permite ao cliente pagar a faculdade. Não se trata de uma linha específica para universitários, mas uma operação de crédito que também pode ser usada para outros fins.
"O Bradesco, que já tem linhas para pós-graduação, e o ABN-Amro também tinham projetos adiantados de crédito educativos, mas desistiram por causa da atual crise", diz o diretor da Veris. "Há ainda no mercado o rumor de que o governo pode acabar com o FIES e ficar apenas com o ProUni, que dá um melhor retorno social", diz Matiello. Para ser contemplado com uma bolsa do ProUni, do governo federal, o estudante precisa ter tido boas notas no ensino médio público. A CEF informou, por meio da assessoria de imprensa, desconhecer a informação de que o FIES possa ser extinto.
O aperto no crédito educativo no Brasil acompanha o que já vem ocorrendo há meses nos EUA. Em julho, pelo menos 50 bancos suspenderam suas linhas de crédito para estudantes, segundo a National Association of Student Financial Aid Administrators (NASFAA ), que reúne instituições financeiras que tem crédito universitário.
Notícias Relacionadas
- Faculdades cobram 50% do preço por vaga ociosa
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial