Lula propõe a empresários pacto pelo crescimento...
Lula propõe a empresários pacto pelo crescimento
Sergio Leo
25/08/2006
Um grande pacto ou entendimento nacional, para aprovar rapidamente no Congresso as medidas necessárias para garantir o crescimento foi proposto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aos 27 executivos de grandes empresas e instituições financeiras com quem jantou na noite de quarta-feira. Entusiasmado com a receptividade, Lula repetiu a proposta em discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), ontem, no Palácio do Planalto. "Ele pediu um pacto, que é necessário, temos de superar esses conflitos todos", comentou ao Valor o presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli.
"Após as eleições, seja qual for a decisão popular, estarei na linha de frente da construção de um grande entendimento nacional pelo futuro do nosso país", discursou Lula, no Planalto. "Temos que reduzir a tensão política, dedicar nosso tempo mais ao que nos une do que ao que nos divide", pediu. "Falamos na necessidade de um pacto, para garantir o crescimento do país", confirmou ontem o presidente do grupo Gerdau, Jorge Gerdau, ao relatar o encontro da véspera.
Fazendo coro aos empresários, Gerdau defendeu que o próximo governo atue fortemente nos primeiros meses de gestão para aprovar as medidas defendidas pelo setor privado, como as reformas da Previdência, trabalhista e tributária. Até empresários que não participaram do jantar com Lula defenderam uma ação conjunta para superar a crise política e avançar no Congresso com as medidas consideradas fundamentais para assegurar o crescimento econômico. "Não dá para ficar um ano discutindo a reforma política: o governo eleito tem muita força no primeiro mês de mandato e tem de aproveitar para, nas primeiras semanas, fazer a reforma política", defendeu o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, na reunião do conselho no Palácio do Planalto.
"O governo tem de aproveitar o período de graça, de início de mandato, para promover as reformas" concorda o presidente em exercício da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Moreira Ferreira, que lançou ontem o documento "Crescimento: A Visão da Indústria" com as propostas das principais associações de classe do setor privado para os candidatos à Presidência. Moreira Ferreira criticou o que considera falta de uma agenda, dos candidatos na campanha presidencial, para os primeiros momentos de mandato.
"Ficamos na discussão menor, tratando de escândalos, e o Congresso está parado por causa das medidas provisórias", insistiu o presidente da CNI. "Não podemos ficar só conversando de CPI, de prisões e operações da Polícia Federal", disse. "Onde está a verdadeira operação do crescimento econômico?"
Apesar das críticas de Skaf, para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que participou do jantar com os empresários e o presidente, todos os participantes da reunião concordaram com a necessidade urgente da reforma política, prioridade para a equipe de Lula - que a considera fundamental para garantir apoio no Congresso para medidas de reforma mais profundas.
A discussão sobre a reforma política foi, aliás, levantada durante o jantar por um empresário, Jorge Gerdau, segundo relatou Mantega. "Por incrível que pareça, a questão central colocada no jantar foi a questão da reforma política", garantiu. Essas reformas, com medidas para dar maior solidez aos partidos e combater o fisiologismo, seriam um "abre-alas" para outras reformas, acredita o ministro. "A reforma política abre caminho para que outras reformas possam ser feitas, sem caráter corporativo, a partir de interesses específicos", defendeu Mantega. "O importante é que se consolida a idéia de uma reforma que possa trazer oxigênio para a política brasileira."
Lula, segundo os empresários, comportou-se como quem acredita que já está reeleito, mas falou muitas vezes em "segundo turno" das eleições, revelou Gerdau.
No jantar, os empresários endossaram apenas em parte o clima de otimismo do governo, que garantiu estarem lançadas as bases do crescimento na economia brasileira. Para Roger Agnelli, o país tem condições de crescer a taxas de 5% anuais, mas precisa adotar medidas que diminuam os custos sobre as empresas e o investimento. Mantega reconheceu que os empresários pressionaram o governo para remover rapidamente o que consideram obstáculos ao crescimento da economia, como os altos tributos, a burocracia e as deficiências de infra-estrutura. "Várias pessoas concordaram que hoje o Brasil reúne as condições para que o país dê um salto, mas há obstáculos que têm de ser transpostos", admitiu o ministro.
Emílio Odebrecht, do grupo Odebrecht, cobrou do governo uma reforma do Estado, para reduzir a burocracia e dar mais eficiência ao governo. A maior parte dos empresários queixou-se da excessiva valorização do real em relação ao dólar e da necessidade de reduzir impostos sobre investimentos, especialmente nos gastos destinados às instalações físicas da indústria e compra de equipamentos.
Os empresários ilustraram algumas das queixas com os problemas enfrentados pela Volkswagen, que pretende demitir parte de seus funcionários e fechar linhas de produção devido à perda de competitividade em relação a subsidiárias da multinacional em outros países. Mantega prometeu estudar o pedido de Rogélio Golfarb, presidente da Anfavea, a associação do setor, para reduzir a tributação sobre as vendas que excederem os níveis atuais.
"Temos o problema do câmbio, mas ele também é conseqüência dessa solidificação do país: o país fica mais sólido, mais forte, menos vulnerável", comentou Mantega. "Temos de como pensar isso de outra maneira, reduzindo custo financeiro, custo tributário e de infra-estrutura."
Ao anunciar a agenda da CNI, que resume a avaliação dos empresários e a agenda de medidas apontadas como necessárias para garantir o crescimento sustentado, Moreira Ferreira comentou que, "infelizmente", a agenda de medidas prioritárias ainda está vinculada à redução do chamado "Custo Brasil". Além disso, segundo Moreira, é fundamental que o próximo governo estabeleça as regras (o chamado marco regulatório) para atividade privada em setores nos quais o país é competitivo, como a biotecnologia e saneamento, para permitir o investimento privado. "A inação nessa área tem um custo, o país deixa de se desenvolver", comentou o diretor-executivo da CNI, José Augusto Fernandes.
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